Faz algum tempo que nos conhecemos e eu ainda não tive coragem para escrever-lhe. É difícil entender como uma pessoa que surge do nada deveria ter um peso enorme na minha vida. Confesso-lhe que ao principio recusei-me a acreditar em tal possibilidade, mas isso é normal, as pessoas ficam surpresas quando algo inesperado acontece. Fiquei noites e noites pensando na sua ausência e em todos os momentos que deveria ter sentido a sua falta, mesmo tendo apenas meras ilustrações em minha cabeça da sua fisionomia. Eu cresci, e durante esse tempo eu pude viver bem. Quando tinha 4 anos, contei para minha tia que eu tinha um namorado, ela riu um pouco e depois disse que eu não tinha idade para aquelas coisas... Imaginei qual seria a sua reação quanto a isso. Quando tinha 7 anos, grampeei meus dedos ao tentar arrumar um trabalho para a escola, eu chorei ao ver meu sangue escorrer, e você não estava ali para abraçar-me e dar um "beijinho" para sarar. Eu fui uma criança feliz e nunca nada me faltou, na verdade, eu nunca senti a sua falta, eu apenas posso perceber hoje, os momentos em que eu poderia ter sentido mas não senti. Eu aprendi a andar, eu levei inúmeros tombos, eu aprendi a ler, aprendi a escrever, chorei fazendo birra, assisti desenho de manhã, comi "danone" tomei "nescau", brinquei com bonecas, aprendi a andar de bicicleta,ganhei um cachorrinho, brinquei de pique-esconde, aprendi a falar com Deus, aprendi a me expressar, fiz inúmeros desenhos, ganhei ursinhos de pelúcia, escrevi mil cartas, eu simplesmente cresci! E apenas uma palavra eu nunca pude dizer: Mamãe. Porque eu nunca te tive por perto e nunca me ensinaram a te amar. Não existiam motivos para essa palavra fazer parte do meu vocabulário. Espero que entenda meu medo Dona Ana, ainda não sei quais foram os seus motivos para deixar-me na casa dos meus tios e sumir por tanto tempo. Posso dizer que todos os dias tento vê-la como minha mãe e essa não é uma tarefa fácil! Mas um passo adiante nós já tomamos! Nós nos conhecemos! Espero que seja só questão de tempo para que eu posso abrir a minha boca e falar com gosto: EU TE AMO MÃE.
Um Abraço
Lilian
44ª edição cartas - Infância Nostálgica Bloínquês
2 comentários:
Criatividade: Sem palavras garota! Carta realmente comovente, envolvente e muito criativa. Senti sentimentos nela, e se essa história foi completamente inventada por você só posso te dar meus parabéns!
Ortografia: Sem erros ortograficos/gramaticais
Tema: é uma carta completamente dentro do tema proposto. Adorei.
Tenha um ótimo final de semana! parabéns pela linda carta. beijos
Olá Vinicius
Fico feliz que tenha gostado da minha carta.
A história contém apenas alguns fragmentos da realidade, mas o contexto geral foi criação minha.
Obrigada pela avaliação.
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